A literaura e o cinema sempre foram meus refúgios. Graças a eles eu consegui manter o mínimo de sanidade durante a pandemia. Em 2020 eu fiz lives, tive clubes de leitura, podcasts e afins. Em 2021 eu decidi voltar a Twin Peaks. Revi tudo, li, pesquisei, mergulhei naquele mundo que parecia melhor que o Brasil de Bolsonaro.
Achei que em 2022 voltaríamos ao normal. Durante algum tempo foi assim, mas agora, às vésperas das eleições, me vi totalmente surtada. Stephen King geralmente é meu conforto para esses momentos, mas resolvi abraçar o mundinho Anne Rice.
Desde 2018 eu vinha ensaiando esse retorno a ela. Reli Entrevista com o vampiro, li A hora das bruxas com a Jéssica. Agora estou obcecada com a nova série de Lestat e Louis, aí aproveite para reler O vampiro Lestat, nesse examplar breguíssimo que saiu pela Rocco em 1999, com tradução de Reinaldo Guarany.

Eu tinha 15 anos quando foi lançado o filme A rainha dos condenados. Eu era uma gotiquinha fã de new metal, então foi algo maravilhoso. Revi o filme em 2020 e constatei que ele é péssimo, e uma grande bagunça, mas eu amo. Até hoje fico ouvindo a trilha sonora repetidas vezes.
Assisti o filme com Tom Cruise e Brad Pitt quando eu ainda era criança. Em 2002, após assistir ao filme da Akasha, comecei a ler as crônicas vampirescas. Não tinha internet, eu não tinha grana para comprar livro, então li tudo pela metade, fora de ordem. Quando peguei O vampiro Lestat para reler eu não lembrava de quase nada.
O livro começa com Lestat despertando depois de uma longa sonolência embaixo da terra. Todos os dias uma música vinha do solo, o que o levou a ir de encontro à banda que a tocava. Uma das primeiras coisas que ele faz ao sair do sono é ler o livro narrado por Louis. Ele decide então contar a própria história, desde sua juventude quando ganhou fama por caçar lobos que aterrorizavam a região em que ele morava na França.
Após o episódio com os lobos, ele conhece outro jovem e juntos decidem ir para Paris. A mãe de Lestat está a par de tudo e os incentiva. Lá ele parece viver a vida dos sonhos, até que nota a presença de uma estranha figura que o cerca. Em Entrevista com o vampiro temos a visão de Louis sobre Lestat: a de que ele era ciumento, manipulafor e controlador. Aqui é diferente, Lestat é um rebelde, questionados, mas não chega a ser uma figura (tão) repulsiva.
É bem interessante notar como a religião é questionada o tempo todo, bem como a existência de Deus e do Diabo, do bem e do mal. Há a dualidade do vampiro numa figura de deus a ser adorado e da representação do mal que habita a escuridão. Acompanhamos Lestat através dos anos e do mundo, sua busca por algum significado, tentando entender sua existência. Ele se depara com vampiros subordinados, que parecem não entender a própria grandeza. Logo entra em contato com o passado e descobre segredos da criação de sua espécie.
Assim como no primeiro livro da série, há diversas passagens um tanto problemáticas, mas acho que aí está o encantamento que Anne Rice exerce até hoje. Ainda mais se formos pensar no tanto de blasfêmias que ela escreveu, depois se converteu ao cristianismo e escreveu livros sobre anjos, e depois voltou para os vampiros. É tudo tão absurdo que se torna fascinante!
O livro termina nos anos 80, com uma grande confusão no show da banda de Lestat e há o retorno de um personsagem importante (tentando não dar spoilers aqui!).
Lestat é um vampiro bissexual, com mil questionamentos sobre a fé, moldando seu caráter através de novas experiências. Ele é confiável? Acreditamos na palavra dele ou na de Louis? E como seria uma nova entrevista com Louis? Vejam a série, inclusive.
Tempos difíceis pedem boas companhias e assim sigo no mundinho Anne Rice.