Costuras para fora, de Ana Squilanti

Ainda pensando nas mesas que vi na Flic e na que mediei nesta semana, atualizei meu CV aqui no site. Uma amiga até me perguntou se eu estava procurando emprego. Não, nada disso, apenas fico bem feliz de ter participado de uma lista tão bacana de eventos. Notei que a Ana Squilanti aparece em vários deles. Conversamos na Feira da Mário de Andrade e eu tive a alegria de mediar uma mesa com ela e a Gabriela Soutello em 2020, início da pandemia, quando a gente ainda aguentava os eventos online.

Na ocasião, ela tinha recém-lançado seu livro de contos, Costuras para fora, pela Editora Nós, que eu li e adorei. Aproveitei que iria conversar com ela novamente para fazer uma releitura e cada conto cresceu em mim. Ela disse mais de uma vez que os contos estão interligados de alguma forma. Já pedi para ela um mapa, pois sou uma leitora desligada que não capta esses pequenos detalhes (o que é bom para uma leitora de Agatha Christie).

Agora a Ana está trabalhando numa adaptação do conto Bonita de rosto para o cinema. Na primeira leitura ele foi o que mais me impactou, visto que também fui uma criança gorda, que desde pequena era direcionada a fazer dietas malucas e me encaixar em algum papel social. Ana disse que o filme terá um direcionamento diferente e eu mal posso esperar para assistir.

As duas evas foi meu preferido na releitura. Já falei várias vezes aqui como eu odeio Carnaval, multidão e glitter. Me sinto sufocada vendo fotos ou lendo descrições das festas. Inclusive, uma das minhas passagens preferidas da literatura é de A Sucessora, da Carolina Nabuco, na qual a personagem descreve seu desconforto de estar numa festa carnavalesca. Mas voltando ao conto, para além dos sentimentos ruins que ele me despertou, ainda teve a questão do relacionamento entre as pessoas, das etiquetas a serem cumpridas. Eu amo um texto que me deixa mal.

Assim como no livro da Julia Codo, que resenhei aqui ontem, a Ana também parte de situações cotidianas para escrever seus contos. Num deles ela descreve um final de relacionamento entre homens. O foco não é o fato dos caras serem gays, e sim o término, dolorido, independente da orientação sexual. Outro conto fala de uma pessoa aguardando outra num show, e ela leva um bolo, e isso dói. Ana trouxe uma dor que cabe a todos.

Um acidente de carro, um idoso morando sozinho pela primeira vez, um romance adolescente, sexo sem muitos sentimentos, infância roubada, sentimentos controversos, tudo é matéria-prima no livro Costuras para fora. Sou apaixonada pela literatura que as minhas contemporâneas estão fazendo, e ainda mais pelos contos. Imagino que escrever um romance deva ser uma coisa complexta, mas escrever vários contos, e cada um fazer sentido em seu universo, deve ser um baita trabalho.

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