Você não vai dizer nada, de Julia Codo

Neste fim de semana estive na Flic, uma nova feira literária que acontece em Itu. Minha primeira vez na cidade, primeira vez viajando de ônibus depois de dois anos e primeira vez sem máscara, conversando, abraçando os amigos e conhecendo gente nova. Foi muito cansativo, mas foi uma experiência maravilhosa. Estar entre pessoas dos livros é o que me faz bem.

A primeira mesa que assisti foi entre a Ana Squilanti e a Monique Malcher. Ambas falaram de seus ótimos livros de contos. Ontem tive a oportunidade de mediar uma mesa com a Julia Codo, a Mari Carrara e a Ana Squilanti. É até estranho ver pessoas queridas num espaço de tão poucos dias, ainda mais para falar de livros. No sábado a Monique disse que gostava de livros de contos que tivessem um fio condutor, que as narrativas tivessem a ver de alguma forma. Concordo, e foi exatamente isso que encontrei no livro da Julia.

Você não vai dizer nada foi publicado ano passado pela Editora Nós e eu já conhecia a escrita da Julia da coletânea do Leia Mulheres, então já sabia que ia encontrar coisa boa aqui. O título já é o tal fio condutor entre os contos, que por vezes é uma pergunta, em outras é uma afirmação. Essa conotação dúbia, sem interrogação e sem ponto final, já traz um pouco do que encontraremos nos contos.

O conto que dá título ao livro traz um casal numa viagem de carro, no final de um relacionamento, em que não sabem muito bem o que dizer ou fazer. O grande elefante branco na sala é uma baleia. Sim, literalmente uma baleia. Gosto muito da forma como a Julia escolheu esse fato bizarro para ser plano de fundo do conto.

Outro que gosto bastante é Quando as coisas ficam pequenas, de uma mulher lidando com situações que talvez estejam apenas em sua cabeça. Golden Gate, que leva o nome daquela famosa ponte, trata de suicídio. Um tema amargo, mas que a autora trata de forma bastante interessante. Acho que meu preferido é o último, Os dois finais, que traz uma situação absurda, de provocar risos e angústia ao mesmo tempo.

Na conversa de ontem falamos sobre como cada escritora colocar um pouco de si nos textos, mesmo usando personagens completamente diferentes. Na literatura escrita por homens isso sempre foi louvado, tantos ficaram famosos contando as próprias desventuras, mas com as mulheres isso sempre foi colocado como algo menor. Eu tenho essa coisa de ficar procurando pistas da realidade nos textos, por isso sou bem feliz de poder conhecer as escritoras que admiro. E passo admirá-las ainda mais, quando descubro que um simples acontecimento do dia a dia leva a um conto ou romance com mil questões.

Não cresci lendo contos, passei a amá-los de uns anos para cá, e tenho encontrado livros ótimos. Esse da Julia é um deles, temas comuns, vozes comuns, mas narrativas que levam para diversos caminhos.

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