O Leia Mulheres completou sete anos agora em março e sou muito grata ao nosso projeto. Foi por causa dele que eu conheci inúmeras escritoras sensacionais. Aprendi a procurar editoras novas, independentes, autoras pouco conhecidas no Brasil. Há alguns anos li meu primeiro livro da Scholastique Mukasonga, Nossa Senhora do Nilo. Pouco depois, li A mulher de pés descalços, ambos publicados pela Editora Nós.
Sempre falo de algumas escritoras que eu só conheci adulta, como Carolina de Jesus e Maria Firmino dos Rios. Se a literatura já era bem limitada, imagine como não eram as aulas de história. Eu me formei sabendo pouquíssimo além de Brasil, Europa e Estados Unidos. Felizmente o contato com a escrita de autoras como Mukasonga está me ensinando muito sobre o continente africano.
Se Igiaba Scego me ensinou sobre a história da Somália, Mukasonga me ensina sobre Ruanda. Um belo diploma foi o terceiro livro da autora que peguei para ler (também publicado pela Nós, com tradução de Raquel Camargo). Assim como nos anteriores, a autora fala bastante de Ruanda.

Os outros livros tratam dos horrores acontecidos no país, aqui ela foca mais em seus estudos, as oportunidades que encontrou e os planos de sua carreira. A escrita dela é bastante pessoal, ela fala de si e ao mesmo tempo nos coloca a par de todo o contexto histórico. O pai de Mukasonga dizia que ela deveria ter um diploma, que seria seu bem mais valioso, e assim ela fez todo o percurso para conquistá-lo.
Com os conflitos que ocorreram em Ruanda, ela teve que se refugiar em Burundi, país igualmente pequeno e colado ao seu. Lá ela conquistou seu valioso diploma de assistente social. Após tanto lutar por ele, Mukasonga encontrou inúmeras dificuldades para começar sua carreira. Ela se casou com um homem francês e após algum tempo no continente africano, eles se mudaram para a França e lá seu diploma nada valia.
Ela enfrentou tantas dificuldades em sua vida e não poderia exercer sua profissão? Além disso, os conflitos em seu país lhe deixaram profundas cicatrizes. Qual caminho ela poderia seguir, sendo uma mulher negra africana? Um belo diploma tem uma leitura mais “leve” se comparado com os demais da autora. Todo o terror que seu país vivenciou está nessas páginas, mas de uma forma indireta, mostrando o impacto nos estudos e carreiras.
É incrível toda a gente que conhecemos nessa empreitada. Comigo foi igual 🥰
Sorte.
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