Exosfera: é a camada mais longe da Terra, alcançando os 800 km de altura. É composta basicamente por gás hélio e hidrogênio. Nela encontram-se os satélites de dados e os telescópios espaciais. (Mundo Educação)
Já falei de outros livros de poesia aqui neste blog e sempre venho com o mesmo discurso: eu não acho que poesia precisa ser entendida, mas sim sentida. Bem clichê e bem besta, mas é a real. Eu posso ler um poema e não entender absolutamente nada, mas se ele causar algum sentimento em mim, já foi uma leitura mais do que válida.
Perguntei esses dias para amigos quem tinha o costume de ler poesia com frequência, foram poucos. Mais gente disse que não lia nada, do que pessoas que disseram que tinham vontade de ler mais. Queria saber porque poesia parece ser algo sem meio termo, ou se ama ou se odeia. Eu amo, as que eu sinto alguma coisa. Exosfera, da Flávia Rocha (Editora Nós), me fez sentir.

Na orelha, Virna Teixeira escreve: “Diante de um momento coletivo tão desolador, Flávia Rocha consegue uma proeza. Escrever a desolação. O testemunho de Exosfera é de um astronauta, cujo gênero desconhecemos, que se afasta e observa a Terra, em 2121, ‘um ano sem semblante próprio'”.
Numa rápida resenha eu disse: “Esse livro aqui me deixou toda desconjuntada das ideias. Na leitura lembrei de Octavia Butler, de Bowie, do disco do Neurosis com a Jarboe e de prédios da União Soviética”. Agora penso na música The Entire City, da Gazelle Twin. Todas essas imagens e sons se passaram pela minha cabeça ao longo da leitura.
Destaco três trechos que talvez façam sentido com essas coisas que citei acima:
Durmo mais fundo e me fecho
por dentro. A casca metafísica me contém
como um feto. Indigente, aquoso
flagrante e inexperiente : (pág. 31)
Você disse que teve filhos
para não ficar sozinha. Distância
– mesmo a inimaginável –
se traduz em solidão? (pág. 47)
Torres de concreto armado
de altura inatingível se erguem
às margens dos rios em zonas
aparentes. Servem como matriz
para projetos urbanos em escala
global. As fachadas arquétipicas
voltadas umas contra as outras
parecem sempre anunciar
| o colapso iminente. (pág. 63)
Cada verso me fez pensar naquela ficção científica triste, desoladora, de terras perdidas. Pensando no momento que estamos vivendo, as dores que estamos sentindo, e essa ficção me parece cada vez mais próxima. E a Flávia Rocha conseguiu transformar isso em poesia. Eu me pergunto que visão teria uma segunda ou uma terceira pessoa desse livro. Seria ela influenciada pelas imagens que eu coloquei aqui? Ela teria percepções completamente opostas? O que a própria Flávia acharia disso tudo?
Bem, não importa. Poesia é isso, você escreve e joga para a interpretação do mundo. Exosfera me trouxe tudo que eu procurava em versos, algo que fizesse sentido com todas as minhas ideias e percepções da vida.
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