House of Psychotic Women, de Kier-La Janisse

Nem me lembro quando foi a primeira vez que topei com o livro da Kier-La Janisse. Nessas minhas pesquisas eternas sobre as mulheres no terror devo ter caído em alguma resenha e por muito tempo ele esteve na minha lista de desejados. Dólar alto, aquela coisa toda, nunca conseguia comprar. Até que um rapaz muito gentil, que acompanhava meus textos no Cine Varda, me ofereceu o exemplar dele.

Comecei a ler o livro em outubro ou novembro de 2019, e só terminei hoje, nove de março de 2022. Por que tanta demora? Porque esse é um dos livros mais densos que eu já li na vida. No começo eu queria ir assistindo os filmes conforme eles eram citados, mas era muita coisa que eu não encontrava, ia demorar muito.

Kier-La Janisse é uma das pessoas que mais admiro nesse rolê de cinema. Ano passado ela lançou um documentário chamado Woodlands Dark and Days Bewitched: A History of Folk Horror, que como sugere o título, analisa filmes do gênero. Uma coisa bem bacana é que ela fala do cinema brasileiro, entrevista pesquisadores daqui. Lembro que na época da pesquisa ela estava vendo muita coisa do nosso cinema e comentando nas redes. Me deu até um pouco de vergonha de não conhecer muito do que ela estava citando.

Mas voltando ao livro, House of Psychotic Women: An Autobiographical Topography of Female Neurosis in Horror and Exploitation Films se tornou um dos meus livros preferidos da vida. Janisse faz o que eu mais amo: fala de si mesma e entrelaça o cinema de horror na sua vida. Lembro que nos tempos de fotolog meu amigo W. sempre fazia resenhas de filmes contando coisas de sua própria vida. Esse tipo de escrita se tornou uma inspiração para mim, afinal, cada texto aqui é um pouco do meu sentimento.

Janisse conta sua infância, sua relação com os pais adotivos, com os irmãos, os futuros relacionamentos, como ela começou a trabalhar com cinema. Não sei como foi possível, mas agora a admiro mais ainda. Ela é muito honesta em sua palavras, conta momentos difíceis, expõe fraquezas. Me identifiquei com diversas passagens, e claro, aumentei e muito a minha lista de filmes para assistir.

Ela analisa como a mulher é retratada no horror, falando de clássicos como Possessão (que é meu filme preferido e a capa deste blog), passa por coisas mais modernas como Anticristo, cita diretoras como Marina de Van e Claire Denis, com seus maravilhosos Em minha pele e Desejo e obsessão. Janisse escreve sobre clássicos como O que terá acontecido a Baby Jane? e cita trechos da obra de Susan Sontag. Encontrei todo o conforto do mundo neste livro.

Me peguei pensando que meus filmes preferidos possuem “psychotic women”: Possessão, Suspiria, 3 Mulheres, Jeanne Dielman, Grey Gardens, Persona e assim por diante. Acho que é sempre mais fácil se enxergar numa ficção exagerada, ver na arte aqueles pensamentos que tomam a minha cabeça. Acho até contraditório eu gostar tanto de filmes dirigidos por homens, ainda mais homens que são conhecidos pela escrotice no set.

Infelizmente este livro está caríssimo e não há sinal dele ser publicado no Brasil. Ele está repleto de cartazes de filmes, cenas e é lindo. Só achei meio difícil de ler na folha branca, com letra miúda e uma diagramação esqusita. Mas fora isso, é um livro que eu pretendo revisitar sempre, rever os filmes e me encontrar em cada capítulo.

2 thoughts on “House of Psychotic Women, de Kier-La Janisse

  1. É incrível a forma que você expressa seus sentimentos, isso foi encorajador para mim, espero um dia eu me expressar melhor sobre as coisas que me aflige.

    Like

Leave a Reply

Fill in your details below or click an icon to log in:

WordPress.com Logo

You are commenting using your WordPress.com account. Log Out /  Change )

Twitter picture

You are commenting using your Twitter account. Log Out /  Change )

Facebook photo

You are commenting using your Facebook account. Log Out /  Change )

Connecting to %s