Divindades solitárias, de Andreas Chamorro

Ano passado, numa noite de segunda-feira, saí para encontrar uma amiga escritora que estava em São Paulo. Lá chegando conheci o Andreas Chamorro, e bateu uma identificação de cara. Conversa vem, conversa vai, saí de lá dizendo que ele era meu novo melhor amigo. Num segundo encontro em me presenteou com seu livro de estreia Divindades solitárias, que ele publicou pela Kotter Editorial.

O livro estava aqui esperando seu momento de ser lido, e ele aconteceu após uma noite de cervejas com Chamorro. Na dedicatória ele me diz que não se reconhece mais nesses contos, mas encontrei pistas dele em alguns dos textos, ainda mais depois de tantas conversas e confidências. É sempre difícil ler algo de quem você já conhece. Eu sempre fico procurando os pontos biográficos. Sei que muitos escritores odeiam isso, então só posso pedir desculpas.

O conto que abre o livro O Autodidata, faz uma brincadeira com Borges, um dos autores preferidos do autor. Nele, Borges entra em contato com a obra de Andreas Chamorro, veja só. Ousado escrever algo assim, pensei num primeiro momento, mas da forma que ele narra, fiquei completamente entregue à brincadeira. E ela se estende pelo conto seguinte, no qual um estudioso analisa o texto de Borges sobre Chamorro.

Pulo aqui rapidamente para o último conto, Dilema de Victor Hugo, uma conversa direta com Hilda Hilst. Eu amo demais essa coisa de compartilhar admiração que temos pelos que vieram antes. Hilda é uma das escritoras que mais me fascina, justamente por eu não conseguir acessar quase nada de quem ela realmente era. O diálogo de Andreas com ela é uma coisa incrível de se acompanhar.

Os demais contos que recheiam o livro trazem vivências de mulheres diferentes, tem um booktuber à moda antiga, tem narrativa corrida, tem narrativa pausada, tem um pouco de fé. Gostei muito da versatilidade das diferentes narrativas, mas que possuem um fio condutor bem interessante.

A literatura brasileira contemporânea está cheia de pequenos tesouros impressos de forma independente, nos blogs, nos medium e nas fotos do Instagram. Basta a gente sair do óbvio para acessar essas pérolas. Divindades solitárias é exatamente isso, uma novidade em meio ao marasmo.

Se alguém tiver interesse no livro, basta escrever para o autor: dre.chamorro18@gmail.com

2 thoughts on “Divindades solitárias, de Andreas Chamorro

  1. Seu texto chamou minha atenção, quero ler. Como sempre você escreve de uma forma impecável. Tenho muito orgulho de você 😘

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