Como diz a minha bio no Cine Varda, eu fui alfabetizada com a Revista SET. Sem exagero algum, eu folheava aquelas revistas antes mesmo de saber ler direito. Quando criança, eu sabia o nome de todos os atores e atrizes famosos. O amor pelo cinema clássico de Hollywood começou ali. Em 2018 eu maratonei o podcast You Must Remember This e conheci diversas histórias obscuras da indústria.

O livro Os sete maridos de Evelyn Hugo caiu no meu colo. Fui presenteada com uma edição e ele ficou ali na minha estante. Diversas pessoas falavam dele e eu deixava sempre para depois. Aos poucos fui sabendo mais sobre ele: uma relação entre mulheres, Hollywood antiga, segredos e mistérios. Semana passada resolvi dar uma chance, e foi aquele clichê: me consumiu. Em três dias eu li as mais de 300 páginas, usando todo o meu tempo livre para a leitura.

O livro, escrito pela Taylor Jenkins Reid, foi publicado em 2017 e chegou ao Brasil dois anos depois, pela Editora Paralela, com tradução de Alexandre Boide. Evelyn Hugo é uma atriz veterana, que aos quase 80 anos decidiu leiloar alguns vestidos para uma instituição. Ela aceita conceder uma entrevista a uma revista, mas deixa claro que só vai falar com a jornalista Monique Grant. A editora da revista fica meio confusa, afinal Monique não é conhecida, mas não pode deixar a chance passar.

Monique conhece a história de Evelyn Hugo, a atriz de origem cubana que fez um enorme sucesso em Hollywood entre os anos 50 e 70. Além disso, ela ficou conhecida por ter se casado sete vezes. A jornalista se prepara para falar sobre o leilão de vestidos, e ao chegar ao apartamento da atriz, tem uma surpresa. Evelyn diz que não a chamou para falar do leilão, mas sim sobre sua vida. Ela propõe que Monique escreva sua biografia. O combinado é: Evelyn vai contar absolutamente toda a verdade, Monique escreve e fica rica.

Mas qual o porquê disso? Monique se pergunta. Evelyn pede que ela tenha paciência, que ao final da história vai descobrir. Todos os dias a jornalista vai para a casa da atriz e passam o dia todo conversando. Evelyn conta desde sua juventude turbulenta, após o falecimento da mãe e a convivência com o pai abusivo, até seus últimos filmes de Hollywood. Cada capítulo foca em um dos maridos, mas eles são meros coadjuvantes nessa história.

Evelyn Hugo, de origem humilde, teve que fazer de tudo para conseguir sua fama. E isso inclui coisas das quais ela não se orgulha, mas entende que tinham que ser feitas. O primeiro casamento foi uma passagem para Hollywood, o segundo foi por amor. Depois, cada relacionamento daqueles tinha um porquê extremamente calculado, de forma a ajudá-la a conseguir o que queria.

Acho que não é um spoiler falar do relacionamento de Evelyn com Celia. As duas se conheceram quando iam trabalhar juntas no filme Mulherzinhas. Todas as atrizes da época viam Celia como uma concorrente, com sua inocência e postura de quem precisava ser acolhida. Evelyn não, após a desconfiança, viu na jovem uma grande amiga, e aos poucos as coisas evoluíram para um sentimento mais forte. A relação das duas foi marcada por desencontros, segredos e muita turbulência.

E onde entra Monique Grant nisso? Só descobrimos o porquê já nas últimas passagens. E a revelação me fez fechar as páginas e respirar fundo. Eu nunca tinha lido nada de Taylor Jenkins Reid e fiquei completamente apaixonada por sua narrativa. É claro que sua inspiração está nas grandes atrizes da era de ouro de Hollywood, como Joan Crawford, Bette Davis e claro, Greta Garbo, acima de todas.

Indico este livro não apenas para fãs de cinema, mas para todos que gostam de uma narrativa envolvente, cheia de mistérios, drama e muitas lágrimas. Com certeza já quero ler mais coisas da autora.