Desde que comecei a trabalhar em editora eu fico feliz de acompanhar o processo de publicação de um livro. Ainda fico fascinada de pensar que um arquivo de Word se transformou naquilo que tenho em mãos. Foi a mesma coisa com Madame Xanadu, de Aureliano, publicado pela Nacional (minha firma). Eu já tinha lido os quadrinhos dele que saíram pela Conrad (minha outra firma) e já tinha amado, então estava mais do que ansiosa pelo livro.

Madame Xanadu foi publicado pela primeira vez em 2015, de forma independente. Aureliano revisitou a obra, reescreveu algumas partes, outras deixou do mesmo jeito e assim temos essa nova edição. O livro é dividido em capítulos narrados por diferentes personagens. Ele é basicamente um quebra-cabeça, você vai montando e no final, quando tudo se junta, você se desfaz em lágrimas. Foi assim comigo.
Há um grupo de amigos que viveram a adolescência no começo dos anos 2000. Pelos relatos de cada um vamos costurando a história até chegar no presente. A narrativa parte da curiosidade de João, namorado de uma mulher que faz parte desse grupo, em relação a Madame Xanadu, a drag queen conhecidíssima em Natal, que está prestes a cometer suicídio.
Claro que a Madame é o ponto central do livro, que une essas pessoas, mas é interessante conhecer cada um ali. O gótico Daniel fã de Smiths, as irmãs Rose e Bianca que possuem uma relação bem esquisita, Sharon que se reinventou completamente. Eles são pessoas comuns, que fazem um monte de merda, que erram e acertam, que são transparentes e muito interessantes, justamente por se parecerem com pessoas que a gente tem do lado.
A epígrafe do livro vem do seriado Twin Peaks (que eu estou revendo pela quarta vez nesse momento) o que me fez pensar em Madame Xanadu como uma espécie de Laura Palmer, com a diferença de que Madame está prestes a morrer. Sabemos um pouco dela por suas próprias palavras (diário), mas em sua totalidade a imagem que formamos dela é através das outras pessoas (Donna, Harold, James).
Essa vai ser uma resenha curtinha porque tudo que eu falar pode tirar um pouco da beleza de ler esse livro pela primeira vez. Como eu disse lá em cima, eu me acabei de chorar com a leitura, pois suicídio é um assunto bem pesado para mim, mas da forma que Aureliano escreve é impossível não se emocionar. É uma linguagem direta, e ao mesmo tempo poética. Leiam esse livro, por favor.