Entrevista: Rykarda Parasol

Dia desses eu estava limpando a minha caixa de e-mails e encontrei uma entrevista que eu tinha feito com a Rykarda Parasol. Ela foi publicada em 2012 num site que não existe mais. Resolvi escrever para ela perguntando se podia publicar a mesma aqui nesse blog. Ela respondeu prontamente dizendo que sim, mas que muita coisa havia mudado. Perguntei se podia mandar novas perguntas e o resultado você confere abaixo.

Pergunta inevitável: como você está nesses tempos de pandemia?

No momento eu estou me recuperando do Covid, que eu peguei ao cuidar de um parente. Todo mundo está melhor, mas foi uma provação. Obrigada por perguntar.

Conte-me um pouco sobre a sua carreira na música. Quando você começou a escrever músicas?

Eu já fazia umas melodias bobas quando era criança, mas não comecei a escrever músicas até que eu ficasse mais velha. A experiência de vida foi essencial para esses tipos de histórias que eu queria contar, que ofereceram reflexão e avaliação. Você tem que viver a vida para escrever sobre a vida.

Como é o seu processo de escrita?

Eu reflito, observo, e penso sobre as coisas. Honestamente, é difícil de descrever. De muitas formas, as músicas são conversas que eu tenho comigo mesma. Eu não penso sobre escrever as músicas em si, eu só penso em tentar expressar numa história coerente com o que eu estou sentindo. Se eu tenho vontade de sentar com o violão e cantar, então eu faço isso e não penso muito a respeito. A música toma forma a partir das letras, então elas são as primeiras. Se as letras fazem sentido no papel, isso é o principal para mim e a música vai enfatizar o significado delas. As letras ditam como eu vou cantar na melodia e na entrega. Tudo evolui daí.

O que te inspira, na sua vida e ao criar sua arte?

Eu sempre me vejo como uma contadora de histórias e para ter uma história é preciso um começo, meio e fim, então uma história precisa de um conflito e de um arco para funcionar. Por isso, o que me inspira são as dificuldades que precisam ser vistas mais de perto ou que precisam ser resolvidas. Uma “dificuldade” pode ser qualquer coisa pequena ou grande, mas que precisa ser trabalhada. Eu costumo usar um imaginário clássico porque eu prefiro uma atemporalidade naquilo que eu faço. Eu gosto de brincar com a linguagem no imaginário e nas formas físicas de vocaliza-la. Até mesmo uma música triste pode ser divertida de se escrever. Você deve estar disposta a “brincar” porque muitas ideias não funcionam, mas a gente tem que tentar. Eu gosto de escrever como um autodivertimento, então as músicas que não se tornam “músicas” valem a atividade para mim. Quando você se distancia disso, escrever músicas é uma coisa bem boba de se fazer e eu adoro ser boba.

Além da música, como você se expressa?

Eu tenho uma gama de talentos. Eu era uma artista e ilustradora bem antes da música. Desde a infância eu estava sempre desenhando e isso se tornou uma profissão. Como eu disse, eu me vejo como uma contadora de histórias e eu acho que cada história é única e assim sendo, é contada de diferentes formas. Há algumas histórias que não servem para uma música de 3 minutos. Algumas histórias são mais bem contadas com uma ilustração, outras com ensaios, ou poemas. Outras são melhores com a dança.

Eu estudei canto clássico (ópera) quando era adolescente e isso se tornou uma grande influência ao longo da minha vida. Para mim não é só a música, mas também o teatro, as fantasias, o drama das histórias, é muito visual. Eu também me interesso muito por libretto e eu acho que isso fica bem evidente na minha música quando eu falo disso para as pessoas.

Em 2017 eu escrevi e ilustrei um livro de poema (só um poema longo), que foi ilustrado com bordados, chamado An Object of Pleasure que é sobre como o artista objetiva sua vida e também é objetivado.

Eu continuo focando em escrever ensaios e poesia desde então. Eu quero contar histórias num formato mais longo. Inclusive, eu acho que leitores de livros são melhores ouvintes e eu acho que na maior parte da minha vida eu quis ser ouvida. Muitos fãs de música se interessam pelas letras muito menos do que eu esperava, o que não é tão recompensador. É triste porque boas letras podem até melhorar uma música pop. Eu também deveria mencionar que eu escrevi algumas letras para cantores poloneses e franceses que me pediram para escrever letras em inglês para suas músicas. Eu gosto de trabalhar e me mantém ativa na música. Eu até escrevi vários raps, e eu sou boa nisso (acredite ou não!).

A sua música me lembra da literatura Southern Gothic, como Carson McCullers e Flannery O’Connor. A literatura é uma parte importante da sua vida?

Mesmo que a literatura seja uma parte diária da minha vida, eu quero deixar claro que para a maior parte dos escritores a vida tem mais a ver com o que a gente escreve do que com ser influenciado pelos outros. De novo, uma história que seja do meu interesse vai ditar a melhor forma de conta-la. Eu nunca me descreveria como “Southern Gothic” porque isso me parece muito errado, mas eu entendo essas comparações, principalmente por causa dos meus dois primeiros discos.

Já que você mencionou as referências: eu me pergunto se os fãs de música estão abertos para aceitar que os artistas entram e saem de gêneros, porque “gênero” não é muito motivador para mim. Eu gosto de como os diretores de cinema abordam os seus trabalhos em contraste. Por exemplo, Spielberg fez A Cor Púrpura e E.T.. Na superfície eles são filmes bem diferentes, mas no coração dessas histórias tem algo sobre a humanidade. Você vê? Eu não estou interessada gênero ou estilo, mas na história e no seu significado. A história tem que me tocar…

Mas sim, eu amo literatura e leio por horas todos os dias. Muitos clássicos, muita, muita poesia, e muitos livros sobre ciência e filosofia. Eu não vejo a leitura como um lugar de inspiração, é mais uma pesquisa.

Seu ultimo disco, The Color of Destruction, foi lançado em 2015. Podemos esperar um novo disco?

Agora eu estou focando em mim mesma e no que me faz feliz. Eu amo música e amo escrevê-la, e eu estou sempre escrevendo, e eu tenho músicas suficientes para vários discos. Mas, o esforço para lançar um disco da forma padrão não me parece correto agora. Acontece muita coisa no lançamento de um disco e eu não diria para ninguém fazer isso sem ter alguns recursos capazes de aumentar a sua audiência. Eles não estão disponíveis para mim e isso é impressionante.

Eu diria que, de qualquer forma, a maioria das pessoas que esteja lendo isso nunca ouviram falar de mim, e tomara que elas possam descobrir meus quatro discos pelos quais eu dei meu sangue. Eu os escrevi para serem atemporais e universais, e para os ouvintes curiosos, espero que eles sintam que seja algo novo…por agora!

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