Objetos Cortantes, de Gillian Flynn

Texto publicado originalmente na Alpaca Press (2015)

O nome de Gillian Flynn ficou conhecido no Brasil graças a seu livro Garota Exemplar, que recentemente ganhou uma adaptação para o cinema pelas mãos de David Fincher. Lembro de não ter gostado tanto da obra, mas estava ansiosa para ler Objetos Cortantes, seu primeiro romance, recentemente lançado pela Intrínseca.

Em Objetos Cortantes conhecemos Camille Preaker, jornalista que mora em Chicago e é enviada à sua cidade natal, Wind Gap, para investigar o assassinato de uma menina e o desaparecimento de outra. Recém-saída de um hospital psiquiátrico para tratamento de uma tendência à automutilação, ela se hospeda na casa de sua mãe enquanto faz pesquisas para sua matéria e então começam a surgir problemas do passado.

Os problemas de Camille com a automutilação começaram na adolescência, após a morte da irmã mais nova, Marian. Retornar à Wind Gap significa lidar não só com os problemas em família, mas também manter o autocontrole diante da ânsia de fazer mal a si mesma.

Já nas primeiras páginas entendemos que a relação de Camille com sua mãe é um tanto estranha, e agora ela irá conviver também com sua irmã adolescente, Amma. Enquanto Camille é bastante distante do lar, Amma é muito grudada com a mãe. Em casa ela apresenta o comportamento da filha mimada, fora ela é adolescente má que manipula os colegas.

Em meio à relação complicada com a família, ela tem que lidar com a polícia e os parentes das vítimas que não cooperam muito. Eles não querem que ela use a tragédia que ocorreu para se auto promover ou manchar a imagem da cidade no jornal.

Ao contrário de Garota Exemplar, Objetos Cortantes possui uma estrutura bastante fixa e linear. O enredo talvez seja clichê, com uma heroína que volta à sua cidade para investigar um crime e se envolve romanticamente com o detetive que cuida do caso. Mas há alguns pontos que tornam a trama única, como a própria questão da automutilação.

Em determinada parte do livro, Camille está em uma reunião com as antigas colegas e todas discutem casamento e filhos, olham para ela ao se referirem ao feminismo, com deboche. Flynn já foi acusada de misoginia em suas obras, mas a mesma se declara feminista e que isso a dá espaço de criar personagens problemáticas. Mulheres não são apenas naturalmente boas ou más, e a autora explora essa dualidade com suas personagens.

Objetos Cortantes é um bom romance policial. A autora construiu um enredo que em determinado ponto ameaça ser clichê, nos faz achar que x pessoa cometeu os crimes, mas no final há uma guinada completamente diferente. O recurso não é inovador, mas convence o leitor. A escrita bastante fluida de Flynn faz com que seja impossível largar o livro até chegarmos à última página.

Tradução de Alexandre Martins.

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