Eu sempre conto como conheci as escritoras. Eu já falei da Vanessa Vascouto quando escrevi sobre seu livro Água Fria e Areia lá no Leia Mulheres. Nos tornamos amigas pouco tempo depois que a li e desde então temos conversado bastante sobre livros, a vida e tudo mais. Ela logo me contou que estava com um livro pronto, que viria a ser esse Terra dentro, publicado no final de 2020 pela Reformatório.

Eu o li nessa semana que passou, em um único dia, um pouco no horário de almoço, um pouco no metrô. Vanessa conseguiu fazer com que eu esquecesse todas as pessoas ao meu redor. Minha atenção ficou concentrada na história dessa família que preenche as páginas de Terra dentro. Os narradores são três irmãos: Rita, Mirna e Mosquito. Cada capítulo traz uma fala de um deles, sempre se direcionando a alguém.

Vanessa não nos localiza em tempo e espaço, sabemos apenas que eles vêm de uma família bastante disfuncional. Vivem com os pais, sendo a mãe alcoólatra e dada a momentos de crise. Moram perto de uma plantação, que é o emprego de todos que moram ali. São vizinhos de Rosa e André, cujo pai é um lixo e trata a filha da pior maneira possível. Rosa e Mosquito formam um par, bem como André e Rita, que passa a chamá-lo de Maridinho.

Mosquito é magro e bravo, sempre brigando com as pessoas. Seu ódio pelo sogro não cabe em si. Rita é mais tranquila e resignada com a vida que vive. Já Mirna é uma mulher que parece querer algo a mais do que tem, mas não consegue escapar do destino que lhe foi traçado. Ela mantém casos com homens casados, não se compromete diretamente com ninguém.

Com cada capítulo vamos costurando a história dessas pessoas, até que uma tragédia acontece e muda radicalmente a vida de todos eles. Não vou entrar em detalhes, mas adianto que é relacionada a Mosquito e o lixo do sogro. Todos os vínculos são quebrados e nenhum ali continua o mesmo. Exceto por Mirna, resignada ao que possui, segue da mesma forma.

O livro é bem curto, tem 91 páginas, mas assim como o livro anterior da Vanessa, carrega um fôlego enorme. Não é uma história banal, apesar de ser mais comum do que gostaríamos. E um ponto muito interessante é que ela escreve conforme a fala de cada um. A linguagem é flexível, dando mais intimidade para cada personagem.

Sempre recomendo escritoras contemporâneas e com a Vanessa não seria diferente. O ano mal começou e já estou diante de uma das melhores leituras.