A cachorra, de Pilar Quintana

O nome da Pilar Quintana já tinha aparecido algumas vezes para mim. Seu romance La perra, de 2017, ganhou boas resenhas lá fora e eu estava de olho nele. A obra saiu aqui pela Intrínseca, com tradução da Livia Deorsola. Recebi meu exemplar e poucos dias depois já o tinha devorado. Com pouco mais de 150 páginas eu o li de um dia para o outro, um refresco em meio a uma leitura emperrada em que eu me encontrava (ainda me encontro).

O livro se passa na costa da Colômbia, e temos a Damaris como personagem central. Ela vive uma vida bastante simples com seu marido. Ele é pescador e ela é caseira de uma residência que nunca é visitada pelos donos. Ela se sente muito sozinha e mal por nunca ter concebido um filho, apesar de ter tentado de todas as formas, com a ajuda de ervas e curandeiros. Ela decide adotar uma cachorra e cuidar dela com todo o amor possível, diferente de como seu marido trata os cachorros dele, que servem apenas para vigilância da casa.

Logo nas primeiras páginas eu já identifiquei o clima que Ana Paula Maia cria em suas obras. Não se trata de uma comparação descabida, mas sim de que ambas me despertaram os mesmos sentimentos com seus livros. Enquanto lia o livro descobri que ambas participariam de uma mesa na Flip, então ficou comprovada a semelhança. Infelizmente não vi a mesa e nem sei quando verei. Eu não tenho mais forças para nada online. Ano passado eu vi um debate com a Ana Paula, conversei com ela e tirei foto. Sinto uma falta imensa desse contato com as escritoras que eu admiro.

Mas voltando ao livro, Pilar Quintana narra a vida de pessoas simples, daquelas que nós costumamos ignorar a existência. Ana Paula faz isso em seus livros também, ela nos fala da vida de lixeiros, de motoristas, de assassinos de aluguel. Pilar nos trouxe a mulher sozinha, repreendida pela família, sem o afeto do marido e que direciona todas as suas forças para a cachorrinha.

Tudo vai bem, até que um dia a cachorra foge para a floresta. O desespero toma conta de Damaris. Até que ela reaparece muitos dias depois toda machucada e muito magra. Damaris cuida dela como se fosse uma filha. As coisas desandam quando a cachorra toma o hábito de fugir. Ela se sente traída e começa a odiá-la. Aqui a angústia do leitor se multiplica.

Livros e filmes com bichinhos mexem demais comigo. Não que eu não me compadeça com o sofrimento de pessoas, mas com animais eu sinto um buraco no meio do meu peito. Me pergunto o porquê de gostar tanto então desse tipo de livro. Acho que é a crueldade do ser humano, na sua forma mais crua, seja por ignorância ou ódio, é algo que me repele e me fascina.

Meus avós sempre tiveram cachorros para cuidar da casa. Nunca lhes deram afeto ou fizeram carinho neles. Lembro do meu avô socando a casa do cachorro com uma vassoura. Os cachorros sempre foram bravos e eu nunca pude chegar perto deles, constantemente presos em correntes. Acho que essa visão fez com que eu me distanciasse deles e tenha me apegado tanto a gatos.

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