Exuzilhar, de Cidinha da Silva

Ano passado eu estava trabalhando na Pólen (hoje Jandaíra) e o primeiro lançamento que eu acompanhei foi Kuami, romance infantojuvenil da Cidinha da Silva. Eu já conhecia a autora por nome, mas nunca tinha lido nada dela. Esse foi meu primeiro contato com sua obra, li ainda na prova da gráfica e fiquei apaixonada.

Alguns dias depois fui a um evento do qual Cidinha participou e entreguei a ela alguns exemplares de Kuami. Foi ótimo conhecê-la ao vivo, e num momento tão bacana como esse, dela ver a obra pronta pela primeira vez. Nesse dia do evento comprei um exemplar de Um Exu em Nova York (que eu já li e adorei), e ela me presenteou com Exuzilhar e Pra começar, dois livros que fazem parte da série Melhores crônicas de Cidinha da Silva, publicada pela Kuanza Produções.

Também no ano passado a Cidinha participou de um encontro do Leia Mulheres aqui em São Paulo. Conversamos sobre seu livro #Parem de nos matar!. Foi um encontro muito bacana e debatemos muitos aspectos do livro. Algum tempo depois, tive a oportunidade de entrevistá-la no evento da Mário de Andrade, na tenda do Leia.

Desde o dia do Kuami, eu e Cidinha nos encontramos na Flip, em feiras independentes de literatura e é sempre um prazer conversar com ela. Agora em novembro, entre uma leitura e outra, encaixei Exuzilhar, um livro fininho, com crônicas ótimas. Eu não era muito leitora do gênero, mas agora tenho gostado muito.

Eu não sou conhecedora de religiões de matrizes africanas, então os livros da Cidinha são sempre um aprendizado para mim. Além de tratar de questões como racismo e como pessoas negras são vistas na sociedade, a autora sempre nos ensina um pouco sobre práticas e costumes dessa cultura. Cada crônica dela abre para mim um novo mundo.

A música brasileira está recheada desses temas, e infelizmente nunca as escutei muito, não era um costume na minha casa quando eu estava crescendo. Mas agora estou sempre buscando novos artistas e prestando atenção nas letras.

A crônica “Coisas que nem Deus mais duvida!” mexeu muito comigo. Cidinha conta de um evento em que ela estava presente e uma mulher veio com uma fala bastante racista. Só consigo pensar no desconforto. Nesses anos todos de encontros do Leia Mulheres eu ouvi muito absurdo, mas nunca dessa forma escancarada.

Em outro texto a autora fala do racismo que pessoas negras sofrem e também dos indígenas. Ele me remeteu a um trecho do livro Kindred de Octavia Butler, em que a personagem fala que sim, morreram muitas pessoas no Holocausto, mas que morreram muito mais pessoas por conta da escravidão – e também por crimes de ódio -, e não se discute isso na mesma proporção.

Cidinha dedica um texto à Luiza Bairros, que eu não conhecia. Numa rápida pesquisa vi que ela foi ministra-chefe da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial do Brasil entre 2011 e 2014. Mais uma mulher incrível para eu conhecer. Outro texto é dedicado à Sueli Carneiro, fundadora e atual diretora do Geledés — Instituto da Mulher Negra, que eu já conhecia e admirava muito. Só aumentou a vontade de ler as obras de Sueli.

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