Desmemória, de Thalita Coelho

No início da pandemia eu e a Gabi Barbosa criamos o Lendo Juntas. A ideia era ler algo em parceria e depois fazer uma live para discutir. Foi bem bacana, mas decidimos parar. Escolhemos Desmemória (Editora Jandaíra, ex-Pólen Livros) da Thalita Coelho para finalizar o projeto. Infelizmente a Gabi teve alguns problemas e não conseguiu ler a obra. Tive então a ideia de entrevistar a Thalita no meu Instagram e felizmente ela topou a ideia.

Ontem conversamos por quase uma hora e foi tão bacana que decidi escrever um pouco mais do livro. A entrevista está disponível aqui.

Vic gosta de livros, de gatos, trabalha no sebo de sua tia Pandora e namora a Ana. Uma vida aparentemente comum, não fosse por um detalhe: ela se alimenta das memórias das pessoas. Não por maldade, ela apenas precisa disso para sobreviver. Ontem a Thalita me contou que se inspirou na lenda do vampiro para criar esse enredo. Fã de Anne Rice (assim como eu), ela partiu da poesia em seu primeiro livro Terra Molhada (Editora Patuá), para a ficção especulativa no segundo.

Após a morte de Pandora, Vic começa a ficar mal pensando que ela pode ter feito algum mal à tia, e acaba afastando Ana de sua vida, por não saber lidar com a dor. Depois de um tempo as duas voltam a se relacionar e Ana acaba entrando num coma profundo. Vic precisa descobrir como tirar a namorada dessa, e conta com a ajuda da misteriosa Samara que aparece como que do nada.

A representatividade está em todas as páginas, começando pelo casal protagonista, passando por assuntos como gordofobia, racismo e afins. Quando perguntei para a autora o que ela achava do rótulo “literatura lésbica”, ela disse que o aprovava. Desmemória não se trata do fato delas serem lésbicas, mas sim que elas estão ali vivendo uma situação. Essa naturalidade já devia ser comum na literatura, ainda temos um longo caminho pela frente, mas Thalita já deu um passo enorme.

Para mim, o livro tem três momentos: o primeiro, de apresentação das personagens, que mostra o flerte de Vic e Ana (com direito a poesia da Ana Cristina Cesar), a rotina no sebo, café, gato e conforto. Num segundo momento temos Vic desesperada pensando em como tirar Ana do coma, angústia. E por fim, uma cena de ação muito bem escrita, que deixa o leitor apreensivo. Aqui, sem spoilers.

A prosa de Thalita é bastante fluída e direta, com uma linguagem muito próxima do nosso dia a dia. Terminei a leitura com uma vontade enorme de saber mais sobre as outras personagens, principalmente Pandora. Ontem a autora já deixou claro que pretende escrever contos que funcionam como spin off da obra. Ainda bem.

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