#desafioleiamulheres Setembro

A categoria de setembro é uma autora nunca antes lida por você. Fácil. Felizmente há muitas escritoras que eu ainda não conheço. Estava separando meus livros, até que um dia na casa do meu amigo eu vi Estação Onze na estante dele. Pedi emprestado. Eu já tinha ouvido falar muito desse livro e ele sempre é citado no podcast Reading Glasses, meu atual preferido. A distopia de Emily St. John Mandel foi publicada aqui no Brasil pela Intrínseca em 2015 com tradução de Rubens Figueiredo.

Comecei a ler logo que cheguei em casa e a grande coincidência: o enredo se passa num futuro em que a humanidade foi devastada pela Gripe da Geórgia, um vírus que varia da gripe suína, mas é infinitamente mais letal. Foi tenso ler esse livro no meio de uma pandemia. Eu o li no metrô, usando máscara, com as pessoas ao meu redor assustadas e se banhando em álcool em gel, assim como eu.

Eu não sou uma leitora de SciFi e nem de distopias, nada contra, apenas não chego aos livros, mas do pouco que conheço, sempre tem uma questão de disputas por territórios, por comida e armas. Há isso em Estação Onze, mas a autora não carrega nesses elementos. Numa determinada passagem achei que haveria um grande conflito, algo como o que eu vi no começo de The Walking Dead, mas não, ela vai por outro caminho.

Os personagens estão todos ligados pela figura de Arthur, um ator famoso que morre no palco, durante uma encenação de Shakespeare. Ele tem um ataque cardíaco um dia antes de a pandemia tomar conta do mundo. O livro vai do passado para o futuro, e aos poucos vamos costurando as relações.

No futuro, um grupo de artistas formam a Sinfonia Itinerante, que percorre a costa dos Estados Unidos e Canadá apresentando peças de Shakespeare. Claro que eles enfrentam conflitos no caminho, mas as coisas pioram quando eles se deparam com um grupo liderado por um Profeta. Sabemos bem que em situações de medo e perigo as pessoas se afeiçoam muito a um líder religioso. E como sempre, há violência envolvida e mulheres submetidas a abusos.

A Sinfonia segue um lema de Star Trek: “Sobreviver não é o bastante”. Eles usam a arte para continuar, para entreter, para amenizar. O título do livro veio de um quadrinho que é escrito e desenhado por Miranda, a primeira esposa de Arthur. Esse trabalho tem um papel fundamental no enredo e na vida de Kirsten, jovem do grupo de teatro que está envolvida com arte desde criança.

Não quero falar muito sobre o enredo porque o que há de melhor nele é ir percebendo as ligações aos poucos. A escrita de Emily St. John Mandel me lembrou a de Jennifer Egan, não como uma cópia, mas sim na habilidade de criar essas relações entre os personagens, ir para o futuro e para o passado sem tornar a leitura arrastada.

Ontem eu estava lendo Bobagens Imperdíveis para ler numa manhã de sábado da Aline Valek e ela tem um texto sobre esse livro. Ainda estou no meio da pandemia enquanto escrevo esse post, então fiquei pensando muito no meu desânimo, no meu cansaço que não passa, e como os livros têm sido a minha melhor companhia, mesmo que eu viva a ironia de ler uma distopia usando máscara e não abraçando ninguém há meses.

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