Quando você trabalha em uma editora é natural que você queria conhecer melhor o catálogo. Aproveitei esse ano para ler Marina Colasanti, autora que nunca tinha lido. Hora de alimentar serpentes é o quarto dela que leio e percebi que gosto muito da sua escrita. Não estou mais tanto assim em quarentena, mas sigo firme e forte com as leituras conjuntas. Essa foi feita com a Jéssica Reinaldo e ela também resenhou o livro no Fright Like a Girl.
Hora de alimentar serpentes foi publicado em 2013 pela Global Editora e é composto por diversos minicontos. Alguns deles têm apenas uma linha, e todos possuem um tom poético bastante forte. Como é o caso de quase todo livro de contos, alguns são incríveis, outros nem tanto. A uniformidade do texto se dá pela presença da serpente, do fogo, da insônia e dos pequenos acontecimentos do cotidiano. Histórias simples, de pessoas comuns.

A figura do lobo e dos carneiros também permeia vários textos. No conto “Por dentro”, a mulher não consegue se aquecer para dormir, veste então seu casaco de lã de carneiro. Acorda suada, se vira e vomita “os primeiros coágulos de fogo”. Essa é uma imagem que muito agrada.
Há diversas histórias sobre insônia e contar carneiros. Na primeira temos “Porque o sono se recusa a emantá-lo na cama, o homem começa a contar carneiros. Do que se aproveita o lobo, para deslizar sorrateiro na cena e posicionar-se, boca aberta, do outro lado da cerca”.
“No bar do Phillies” é um dos meus preferidos. Um homem se sente sozinho em casa e decide ir a um bar bem vazio e silencioso. Ele prefere estar ali, compartilhar aquela solidão. Colasanti adota um tom bem humorado em alguns dos contos. Em “O Menu” lemos: “Satã sentou-se à mesa. Comeu saladinha de rúcula, mozzarella de búfala, tomatinhos cereja. Cuidava do colesterol. De sobremesa, concedeu-se almas”.
Como eu disse no começo do texto, eu sinto um tom poético em cada conto do livro. Gosto muito das imagens de sangue, de tripas, de vômito, de pele nos poemas e as encontrei na escrita de Colasanti, assim como a dualidade de Deus e do Diabo. Num dos contos finais encontramos: “Para tirar a tua pele e fazer um casaco, para tirar tua carne e fazer um churrasco. Não sem antes cortar tua garganta e oferecer-te a Deus”.
O livro tem mais de 400 páginas, mas é uma leitura rápida. Me prendi bastante nas imagens que comentei anteriormente, mas foi um livro que tive dificuldade de “entender” na sua totalidade. Mas sempre válido conhecer o trabalho de uma importante escritora como Marina Colasanti. Agora o próximo passo é conhecer sua literatura infantojuvenil.
A maneira como vc fala do que lê sempre me deixa em curiosidades pesadíssimas com o conteúdo dos livros. Você é uma excelente influenciadora, viu? 😘
LikeLike
Tomei um susto quando vi que livro tem mais de 400 páginas. Não sei porque sempre o imaginei como um livro pequeno.
LikeLike