Desde o começo da pandemia eu queria escrever aqui sobre como estão as minhas leituras. Acho que já estou em casa há quase dois meses e muita coisa mudou, a vida toda mudou. Vim para a casa arrastando leituras, demorando dias para ler poucas páginas. Li coisas para trabalho, freelas e depois escolhi autores que eu sabia que ia amar, e consegui sair desse marasmo.
Hoje cedo eu estava me exercitando (coisa que só a quarentena fez por mim) e ouvindo o podcast Reading Glasses, que tem sido minha principal companhia para afastar a bad vibe. O programa que ouvi hoje começou com a Mallory O’Meara comentando que estava lendo The Witching Hour da Anne Rice, que é o nome do meu podcast com a Jéssica. Lembrei que tenho o livro e quero muito ler, mas está na casa dos meus pais, e eu não vou lá há mais de dois meses.
O episódio todo era sobre não-ficção, um gênero que amo muito, e a entrevistada era a Caitlin Doughty, uma das minhas grandes obsessões. Nessa semana eu gravei um podcast sobre seu livro Confissões do Crematório, e ano passado tive a oportunidade de conhecê-la e fazer uma entrevista. E a minha nova obsessão é Mallory O’Meara. Comecei a ler seu livro The Lady from the Black Lagoon, que recebeu ótimas resenhas ano passado. Acompanho o podcast da Mallory, suas redes, anoto suas dicas de livros, assim como sempre fiz com a Caitlin. Foi lindo ouvir as duas conversando.
Depois de ouvir o episódio fiquei pensando que talvez a não-ficção seja meu gênero favorito. Eu amo os livros da Patti Smith, da Kim Gordon, da Ana Cássia Rebelo, da Cidinha da Silva e da Janet Malcolm. Os livros das próprias Caitlin Doughty e Mallory O’Meara estão entre os preferidos. E eu comecei a ler livros “de adulto” com Christiane F. e Marcelo Rubens Paiva. Sem contar as obsessões com Olivia Laing e Damien Echols. Gosto muito de acompanhar a vida dos outros.
Hoje terminei de ler um livro antigo de não-ficção da Marina Colasanti. Mas os três livros que li recentemente foram ótimas ficções. Gosto de intercalar, saber da vida real dos outros e das vidas inventadas. No atual momento, tudo que não for eu é válido.
Claro que Stephen King sempre é uma necessidade em tempos de crise. Depois de Doutor Sono fui para Mr. Mercedes, primeiro de uma trilogia policial do autor, com tradução da Regiane Winarski. Eu amo literatura policial e estava com saudades, então esse livro veio em boa hora. Amei o King escritor desse gênero e assim que finalizar outras leituras eu volto para a trilogia.
Li também o livro de contos Costuras para Fora, da Ana Squilanti (Editora Nós) que achei maravilhoso. Ela parte de situações corriqueiras para abordar assuntos mais pesados. Meu conto preferido foi “Bonita de Rosto”, no qual ela fala da vida de uma menina que cresceu gorda, se tornou uma adulta gorda. As implicâncias médicas, dietas malucas e desconforto de estar “fora do padrão”. Amei pela identificação da dor. Outro que gostei muito foi “As Duas Evas” que relata duas situações que me causam um imenso desespero: Carnaval e pessoas forçando para que você faça sexo com alguém.
Depois do romance e do conto, parti para a poesia. Escolhi Miragem, de Soraya Madeiro (Editora Moinhos), um livro curtinho, mas com vários versos que me pegaram. tento fingir sua presença agora como fingi sua presença enquanto você estava grudou em mim.
Tenho lido um pouco assim que acordo, na hora do almoço e antes de dormir. Durante a semana eu dou mais atenção à leitura do que aos filmes, mas nos fins de semana eu costumo reservar as manhãs para finalizar livros. Sento e só levanto quando termino algo que estava começado. É estranho ter todo esse tempo livre no sábado e no domingo quando não estou fazendo freela. E mesmo assim os dias estão passando rápido demais.
Alguns dos livros que li nesse ano eu resenhei no Leia Mulheres, outros aqui nesse blog mesmo. O ruim de ter os sites é a pressão que eu tenho de falar sobre essas leituras. Não me entendam mal, eu amo escrever sobre livros, amo falar com as pessoas sobre eles, mas não é sempre que eu consigo. E isso não quer dizer que não amei a leitura, que não quero divulgar a pessoa que o escreveu, eu simplesmente não tenho forças. Posto algumas fotos no meu Instagram para registrar a leitura, e acho que vou começar a anotar aqui como vai a rotina dos livros.
Imagem do post: The Globe (1883) de Henriette Rönner-Knip.