Desde A Bruxa tenho prestado muita atenção nos grandes lançamentos do terror. Inclusive, foi esse filme que me inspirou a criar o Feminist Horror. Quer dizer, sempre acompanhei tudo, mas desde o filme de Robert Eggers parece que o gênero finalmente ganhou atenção da grande mídia. E aqui tem um ponto que me incomoda: as definições de post horror e elevated horror. Não vou me alongar muito por enquanto, mas ambas não funcionam para mim. Eu gosto tanto de um Toxic Avenger quanto de um Mandy, cada um à sua maneira, dentro do mesmo gênero. O terror sempre explorou os medos da sociedade, não é uma coisa nova. O que vejo de novidade nos filmes atuais é o papel das mulheres. Ainda há muito corpo padrão correndo indefeso e de maneira burra, mas temos personagens muito interessantes. Entre elas destaco Annie de Hereditário e Dani de Midsommar, ambos filmes de Ari Aster.

Quando Hereditário saiu eu corri para o cinema. Estava totalmente dentro do hype. Saí da sessão sem forças, pensando muito no que eu tinha acabado de ver. Vi nele um filme de terror no sentido clássico da palavra: elementos sobrenaturais, uma criança estranha, gore e cenas de susto. Mas acima de tudo, esse filme tem uma personagem principal como eu nunca havia visto. Ela é uma mulher adulta, de meia idade, sem uma beleza padrão. Ela é indefesa em seus sentimentos. A sua dor é expressa de uma forma crua, animalesca. Mas ela segue, ela cuida de sua família, ela é “louca” que precisa lidar com tudo que está acontecendo.
Aqui um pequeno spoiler, mas Annie (interpretada pela maravilhosa Toni Colette) perde sua mãe e sua filha num pequeno espaço de tempo. E a morte da adolescente foi causada pelo seu filho mais velho. Sabemos que ele não teve culpa, foi um acidente, mas o impacto na família é absurdo, não há como negar. Annie, além de lidar com todos os seus traumas do passado, agora precisa encarar o filho e lidar com a sua dor. A atuação de Colette nesse filme merecia todos os prêmios, é uma dor forte, com suor, lágrimas e catarro. É uma dor feia, daquelas que a gente volta e meia sente na vida real. No filme tudo parece real.
Em Midsommar temos Dani também passando por um trauma familiar. Aqui novamente um spoiler. Ela tem uma irmã bipolar, que lhe manda um e-mail dizendo que dessa vez ela se vai e vai levar os pais junto. Ela se mata e mata os pais. Também elogio a atuação de Florence Pugh, tão visceral quanto a de Toni Colette. Sua dor também é feia. No enredo, seu namorado planejava deixá-la, mas não o faz diante desse acontecido. Ele a convida para ir para a Suécia com ele e uns amigos e lá ela encara suas dores enquanto embarca na insanidade do vilarejo.
Tanto Annie quanto Dani lidam com traumas e estão sozinhas. O marido de Annie é o que podemos chamar de “frouxo”. Ele tenta ajudar, mas está sempre passivo diante de tudo que está acontecendo. Ele tenta ser uma ponte conciliadora entre Annie e seu filho, mas falha. Seu papel é totalmente coadjuvante. Já Dani se dá conta aos poucos de como seu namorado é um idiota egocêntrico. E o ponto mais interessante é que Ari Aster faz esse cara passar vergonha. Nisso me lembrei um pouco de Revenge, filme que não gosto, mas mostra o dito galã numa situação patética.

Eu vejo terror desde que me entendo por gente. Aprendi a aceitar a burrice dos personagens, que correm em direção ao assassino, que tomam atitudes estúpidas. Aceito tudo isso em nome da catarse. Mas desde sempre a exploração dos corpos das mulheres me dá nos nervos. Acho inadmissível que hoje em dia o estupro de uma mulher seja o ponto de partida para um enredo. Já falei aqui no blog sobre o home invasion, gênero no qual uma casa é invadida e a vítima é sempre uma mulher sozinha. Às vezes acontece de ser uma família, mas nunca é um homem. A mulher sempre é a fraca, a indefesa, a assustada.
Ari Aster conseguiu mudar isso em seus filmes. As mulheres passam por situações horríveis, lidam com horrores que são desconfortáveis de assistir, mas elas resistem até onde podem. O final de Midsommar inclusive me lembrou o de A Bruxa, as duas mulheres são maltratadas e acabam escolhendo seus caminhos, contrárias ao que se esperava delas. Sempre gosto de retomar uma fala da Gillian Flynn, na qual ela diz que suas personagens não precisam ser sempre boas. As mulheres não são iguais, não se comportam da mesma forma, não podemos esperar destinos iguais para todas. Annie e Dani tiveram finais opostos.
Ontem vi Predadores Assassinos, um filme sobre inundação, crocodilos e laços familiares. Além de ter gostado muito do enredo e do ritmo, fiquei feliz de ver uma personagem principal muito inteligente, emocional e sem ter o corpo explorado em momento algum. São filmes assim que me fazem ter certeza que o terror é meu gênero preferido.
Fiquei encantada com o trailer do filme. Não sabia que era do mesmo roteirista da Bruxa, filme que vi no cinema e detestei rsrs mas vou insistir pra assistir esse novo sim.
Falando sobre casas invadidas, você chegou a assistir um em que um grupo de adolescentes invade a casa de um cara cego, que tem um mistério por trás e tal. Não sei se este filme se enquadra no gênero, mas achei bastante interessante.
Adoro filmes de terror, mas só me permito assistir a uns dois por ano rsrs
Amei o blog!
ABS,
Isabela
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Olá, Isabela!
Vc se refere ao “Don’t Breathe”, né? Eu gostei muito desse filme, bem tenso!
E muito obrigada por ler meu blog!
Beijos
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