E finalmente cheguei à terceira e última parte deste diário. Não vi tantos filmes quanto gostaria, mas foi uma experiência agradabilíssima, e já estou ansiosa pela Mostra do ano que vem. Quer dizer, espero que ela aconteça, não é mesmo?
Minha ideia para o meu penúltimo dia de Mostra era ver Cafarnaum da Nadine Labaki, mas infelizmente, por conta de um problema com o ingresso, perdi a sessão. Eu tinha a noite livre e acabei escolhendo um filme por acaso, seguindo dois critérios: terminaria cedo (ver filmes todos os dias é algo bem cansativo!) e seria dirigido por mulher.
Acabei escolhendo Rosas Selvagens da polonesa Anna Jadowska, e foi uma ótima pedida. O filme começa com Ewa em um hospital, aparece uma mulher grávida e isso te dá o indicativo do que está acontecendo. A personagem toma uma longo caminho de volta à sua casa e conhecemos seus dois filhos pequenos. O marido, após um longo tempo ausente, retorna e já percebemos que ele é bruto.
A mulher infeliz, que passa muito tempo sozinha e tem um marido abusivo. Esse é um roteiro que já vimos em outros filmes, mas apesar de ser batido, é muito bem trabalhado pela diretora. É extremamente bem filmado, com cenas lindas e atuações ótimas, principalmente das crianças. Tem passagens muito tensas e desoladoras. Em resumo, um filme muito bom, dessas pequenas joias que a gente conhece por acaso durante a Mostra.
No sábado pré-eleição, eu e meu amigo decidimos ver farofagem de terror no cinema. Aquela coisa de ver terror para esquecer um pouco dos problemas da vida real. Escolhemos o novo Halloween (devo falar sobre ele em outro post) e Operação Overlord, que até agora não entendi direito o porquê de fazer parte da programação da Mostra.
Segundo a Wikipedia “Operação Overlord foi o codinome para a Batalha da Normandia, uma operação aliada que iniciou a invasão bem sucedida da Europa Ocidental ocupada pelos alemães durante a Segunda Guerra Mundial.” O filme parte daí. Os soldados americanos chegam na Europa para destruir uma torre e acabam se deparando com uma situação bastante estranha.
Eles se abrigam na casa de uma moça e percebem que a tia da mesma não está bem de saúde. Mas não está bem num nível zumbi. Long-short story, estava acontecendo uma série de experimentos com as pessoas, para torná-las quase que super humanas. É um bom filme de ação, com suspense na medida certa e as cenas gore são muito bem feitas. Um filme que divertirá os fãs do gênero, apesar de não trazer nada de excepcional.
Achei que minha maratona da Mostra tinha acabado, mas eis que me lembro da Repescagem. Não puder ver mais filmes, mas felizmente vi o meu filme preferido da Mostra toda: Las Sandinistas!, de Jenny Murray.
O documentário narra a história das mulheres que estiveram à frente do combate durante a Revolução Sandinista na Nicarágua, em 1979. Eu vergonhosamente conhecia muito pouco da história desse país, e fiquei maravilhada com o que foi contado ali. Essas mulheres, com pouquíssimos recursos, se juntaram à revolução para acabar com a ditadura e assegurar os direitos do povo.
Além disso, elas criaram diversos programas sociais e educacionais. Foram responsáveis também por expor diversos problemas (além de muito machismo) que estavam acontecendo dentro da própria revolução. É surpreendente perceber como as mulheres estão sempre no limite de sua segurança e de seus direitos, até mesmo entre aqueles que deveriam estar do nosso lado.
Dora María Téllez se tornou uma das mulheres que mais admiro e desde que vi esse documentário tenho procurado saber mais não apenas sobre a Nicarágua, mas sobre a América Latina como um todo. Gostei muito de ver a Gioconda Belli ali, e saber que ela esteve diretamente envolvida na revolução. Ano passado eu resenhei seu livro O País das Mulheres, e ele foi discutido no Leia Mulheres de São Paulo.
Daqueles filmes que não acabam no cinema, que você carrega consigo e pensa nele por dias. Me marcou da mesma forma que Matriarcado na Mostra de 2015. Espero que estreie no grande circuito, pois esse filme merece ser visto por todos.
Esse foi o resumo da minha breve, mas intensa, maratona da Mostra de São Paulo. Não deixem de escutar o Drops do Feito por Elas, em que discuto com a Isabel Wittmann os filmes que vimos.
2 thoughts on “Diário da 42ª Mostra (Parte 3)”