O texto abaixo foi escrito em meados de 2017 para uma publicação que infelizmente não foi realizada. Mas ontem, vendo o discurso de Asia em Cannes, me lembrei dele e resolvi publicá-lo. Apesar de não admirar tanto assim seus filmes, gosto bastante da Asia e de sua postura diante desse caos que Hollywood se tornou.
Asia Argento, filha do famoso casal Dario Argento e Daria Nicolodi, nasceu em 20 de setembro de 1975. Foi registrada como Aria Maria Vittoria Rossa Argento, pois o cartório se recusou a aceitar o nome Asia como apropriado. Aos 8 anos de idade ela publicou um livro de poemas e aos 14 anos fugiu de casa. Asia foi descrita pelo pai como uma criança solitária e depressiva, características que podem ser notadas em seu filme mais recente “Incompreendida”, lançado em 2014.
Sua estreia na TV aconteceu em 1985, na série “Sogni e bisgoni”. No ano seguinte, Asia trabalhou no filme “Demons 2 – Eles voltaram”, com direção de Lamberto Bava e roteiro de seu pai, Dario Argento. Em 1988 teve seu primeiro papel de destaque no filme “Zoo”, dirigido por Cristina Comencini.
Entre 1989 e 1998, Asia fez diversos filmes na Itália e também alguns internacionais. Em 1989 ela participou de “A Catedral”, dirigido por Michele Soavi, do incrível “Pelo amor e pela morte”, de 1994. Em 1993 Asia começa a trabalhar com seu pai no filme “Trauma”, no qual ela interpreta o papel de Aura Petrescu, uma garota que presenciou o assassinato de seus pais após fugir de uma clínica. Ela acaba encontrando um rapaz que a ajuda a encontrar o assassino de seus pais.
“Truma” foi o primeiro filme de Dario Argento realizado nos Estados Unidos e houve certa polêmica, pois Asia aparece nua em determinada sequência do filme. Além disso, ela interpreta uma adolescente que passa por problemas e se relaciona com um homem mais velho. São relações bastante problemáticas, tanto a da diferença de idade, quanto do pai filmando a filha nua.

Em 1994 ela atuou ao lado de Isabelle Adjani em “A Rainha Margot”, primeiro filme mundialmente famoso em que Asia Argento atuou. Também em 1994, ela escreveu seu primeiro roteiro, do filme de terror “DeGenerazione”. Dois anos depois, ela volta a trabalhar com o pai no filme “Síndrome Mortal”.
Lançado em 1996, Asia interpreta uma agente de polícia que sofre da Síndrome de Stendhal, em que a pessoa sente vertigens ao ver imagens belas, como quadros de arte. Ela é encarregada de prender um assassino em série e acaba sendo vítima do mesmo. Novamente, temos Dario Argento filmando a filha em situações adversas, com bastante nudez e violência. É um filme bastante psicodélico e com uma reviravolta no final, e a atuação de Asia foi bastante criticada pela imprensa.
Quando questionada sobre as cenas de violência dirigidas por seu pai, Asia disse não ter problemas com elas, e segundo ela, o pai diria que é apenas um filme. Ela também defende o pai de acusações misóginas, diz que as mulheres nos filmes dele são poderosas e muito bonitas. Ele mata mais mulheres em seus filmes, pois elas gritam e se movem melhor.
Em 1998, atua ao lado de Christopher Walken e Willem Dafoe em “Enigma do Poder”, com direção de Abel Ferrara. Neste mesmo ano, ela trabalha mais uma vez com o pai no filme “Um vulto na escuridão”, adaptação do famoso romance “O Fantasma da Ópera” de Gaston Leroux. Dois anos depois, Asia dirige e escreve seu primeiro longa “Scarlet Diva”, no qual interpreta o papel de Anna Battista, uma jovem atriz num caminho autodestrutivo de sexo, drogas, excessos e relações duvidosas.
Em “Scarlet Diva”, começamos a notar que Asia coloca muito de sua vida em seu trabalho. É um filme bastante pretensioso e foi filmado totalmente em formato digital, um dos primeiros a usar esse tipo de tecnologia. É muito difícil falar do filme de estreia de uma filha de diretor consagrado. Sempre haverá comparação, ainda mais no caso dela, que é mulher e seu pai tem um estilo muito marcado de direção. “Scarlet Diva” tem suas falhas, mas é um filme de estreia interessante.

Asia contribuiu com o trabalho de seu pai não apenas atuando, mas também escrevendo versos inspirados em “Animal Farm” para o filme “Insônia”, de 2001, que conta com atuação do veterano Max von Sydow.
O sucesso e reconhecimento mundiais chegam em 2002, com o filme “Triplo X”, no qual ela interpreta uma personagem russa, que está envolvida com a máfia. Esse filme foi importante para Asia, pois deu bastante destaque a sua carreira, mas como a maioria dos filmes de ação que iniciam franquias, nada mais é do que um apanhado de cenas de ação, um humor barato e alguma insinuação sexual entre o protagonista e a femme fatale moderna. “Triplo X” pesca várias referências a 007, tem boas cenas, mas não vai muito além disso.
Em 2004 ela volta à direção com o filme “Maldito Coração”, uma adaptação de livro de mesmo nome, de JT Leroy. Mais uma vez, Asia também atua num filme que dirige, interpretando a mãe do protagonista (o livro foi supostamente inspirado na juventude traumática do autor), Sarah, uma mulher desprezível, que pouco cuida do filho e o arrasta para sua vida conturbada. Asia, por ser filha de um diretor, decidiu interpretar a mãe e estar próxima do ator mirim, pois ela sabia como podia ser pesado esse tipo de trabalho.
O filme é bastante pesado, e pode ser considerado como exagerado em muitas partes, mas já mostra uma grande evolução do trabalho de Asia enquanto diretora. O cantor Marilyn Manson participa do filme como um dos namorados de Sarah. A parceria de Asia com Manson já havia começado um ano antes, quando ela participou do vídeo para a música “(S)aint”.

Asia Argento participou de inúmeros projetos nos anos 2000, entre eles “Últimos Dias”, filme de Gus van Sant sobre Kurt Cobain e “Terra dos Mortos” de George Romero, ambos em 2005. No ano seguinte, ela participou de “Maria Antonieta”, filme biográfico de Sofia Coppola, no papel de Madame du Barry. Também em 2006, foi protagonista de “Transylvania”, no qual interpreta uma mulher que vai até a Romênia em busca de seu grande amor, mas há diversos contratempos e a viagem toma rumos inesperados.
Em 2001, Asia Argento aprendeu francês para o seu papel no filme “Les Morsures de L’Aube”, desde então, participou de diversos filmes franceses. Entre eles, atuou em “A Última Amante”, dirigida por Catherine Brillat.
Em 2007, após alguns anos sem trabalhar com o pai, a parceria volta com “O Retorno da Maldição – a Mãe das Lágrimas”, que fecha a trilogia das Mães. A relação de Asia com o pai sempre foi bastante conturbada. Ela sempre menciona que sua infância foi bastante depressiva e solitária, inclusive esse assunto é recorrente nos trabalhos dela. Eles passaram alguns anos sem se falar por ela não ter participado de um filme dele, mas em 2012 retomaram a parceria em uma adaptação de Drácula.
Asia interpreta Lucy nesta infame adaptação que leva o nome de “Dracula 3D”. O filme é mal dirigido, tem efeitos bastante toscos e não tem o charme característico dos filmes de Argento. Muitos filmes toscos e ruins ganham pontos com o humor, mas esse não chega a ser o caso aqui. É apenas um filme descartável e totalmente destoante do resto do trabalho do diretor.

Dez anos passados desde seu segundo longa, Asia volta à direção com “Incompreendida”, filme bastante autobiográfico lançado em 2014, com a participação da atriz Charlotte Gainsbourg. Ao contrário dos dois anteriores, neste ela mostra maior maturidade na direção, com uma boa escolha de elenco, principalmente da protagonista Giulia Salerno, que leva o nome de Aria, nome “real” de Asia.
Esse é o primeiro longa que Asia dirige, mas não atua. Em entrevista, ela disse que este era um filme sobre inocência. A trama se passa em 1984 e acompanhamos Aria, uma menina de 9 anos, filha de pais artistas que vivem vidas pouco convencionais, sempre deixando a menina de lado. Incompreendida e abandona, a protagonista busca cuidado pelas ruas, sempre em companhia de seu gato.
Asia Argento também participou de algumas séries de TV, inclusive de uma adaptação de “Os Miseráveis” em 2000, ao lado de Gérard Depardieu. Em 2006 ela voltou à TV com o seriado “Mafiosa”. Ambas as séries são produções francesas.
Além de uma prolífera carreira no cinema e na televisão, Asia também esteve envolvida com o cenário musical. Além da já citada participação em um videoclip do Marilyn Manson, ela também apareceu em “This Picture” da banda Placebo. Sua primeira gravação foi um dueto com Brian Molko em um cover de “Je T’aime Moi Non Plus”, de Serge Gainsbourg. Asia também cantou no disco “Femina” da banda Legendary Tiger Man. E finalmente em 2013, ela lançou um disco solo intitulado “Total Entropy”.
Quanto aos trabalhos atuais de Asia, há rumores de que ela seja uma das dubladoras do desenho “Sticky Fingers: The Movie!”. Ela também está em duas produções do diretor Michele Civetta, “Regular Boy”, ainda sem data de lançamento e “The Executrix”, a ser lançado dia 07 de outubro nos Estados Unidos.

quanto trabalho de mulheres que eu não sabia da existência. fiquei curiosa com alguns dos filmes, vou procurar pra ver.
LikeLike
❤
LikeLike