(Este texto pode conter leves spoilers)
No começo do ano passado saiu o trailer de “A Bruxa”, e como todo filme de terror moderno, esse me deu um misto de curiosidade com “ah, deve ser uma merda”. Tive a sorte de vê-lo na primeira exibição no Brasil, durante a Mostra do ano passado, na madrugada do dia 30 para o dia 31 de outubro.
O cinema estava lotado e o clima estava propício para esse tipo de filme. O silêncio era absoluto e ninguém tirava os olhos da tela. Sei que tive sorte, muita gente viu o filme no começo desse ano, nos cinemas “comuns” e a experiência deve ter sido prejudicada. Em 2014 eu vi “Annabelle” numa tarde de sábado, em um cinema de shopping e foi uma coisa bem broxante.
Mas enfim, sobre o filme: eu amei. Tanto que fui ao cinema novamente para vê-lo, coisa que eu nunca havia feito antes. Apesar de não ter sido dirigido por uma mulher, achei interessante falar dele aqui. O enredo é bem simples, aparentemente, uma família bem religiosa é expulsa de sua comunidade por divergências de ideias e vai morar sozinha ao lado de uma floresta. Em pouco tempo lá, o bebê recém-nascido desaparece e assim começam as suspeitas de bruxaria.
O filme não é de um terror comum, não há cenas de susto gratuitas e o clima de tensão é construído aos poucos. Há elementos do terror, mas o foco fica na relação da família com a filha mais velha, Thomasin, que começa a ser acusada de todos os malem que acometem a família. Esse é o ponto principal do filme para mim, toda essa violência que a menina sofre e como ela alcança a redenção no final.
O final do filme não fica aberto para tantas interpretações, está tudo ali: a redenção e a escolha. Thomasin foi acusada injustamente, sofreu violências, arcou com as consequências das ações de seu pai; e finalmente ela tem uma escolha. Em tempos estranhos como os de hoje é difícil ver um filme com um final desses, em que o “mal” prevalece.
Sábado a Luara me passou esse texto e foi com ele que tive a ideia de escrever sobre “A Bruxa”. Sempre pensei bastante nessa questão das bruxas serem temidas pela sua força. Bruxas são as mulheres que fazem o que querem, que cuidam umas das outras, que fogem dos padrões impostos pela sociedade e que se recusam a se curvar diante de um homem. Essa é a ideia básica do feminismo.
Entre 1968 e 1969 surgiu nos Estados Unidos um grupo feminista denominado “Women’s International Terrorist Conspiracy from Hell”, ou simplesmente, W.I.T.C.H. Feminismo e bruxaria sempre andaram lado a lado.
Gillian Flynn, autora de “Garota Exemplar”, foi acusada de ser misógina. Suas personagens nunca são “santas”, são mulheres com problemas e defeitos, que escolheram seus destinos. Flynn diz que está cansada da ideia de que mulheres são naturalmente boas, e que ela sente falta de mulheres vilãs. Ou seja, mulheres podem escolher os próprios destinos, sejam para o bem ou para o mal.
E assim temos Thomasin, que para mim é uma das personagens mais fortes que já apareceram em filmes de terror. Considero “A Bruxa” um filme feminista, porque mostra a redenção de uma mulher e a liberdade para escolher qual caminho tomar. Esse foi um dos meus filmes preferidos do ano passado e certamente um dos meus preferidos da vida.
Recomendo a trilha sonora, que está no Spotify.
Eu detesto o sentimento de medo e tensão que esse tipo de filme costuma causar. Nunca assisto. E não assisti esse. Mas a partir da sua analise, até bateu uma vontadezinha. Assiste pela terceira vez comigo? ❤ beijo, Mimi!
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Claro que vejo!
Só me falar qdo :*
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Pode ver sem medo. Eu sou uma pessoa abertamente avessa à filmes de terror e eu vi esse é gostei muito!
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Mulher, e vc ai achando que não tem nada pra falar, mas seu texto foi maravilhoso!
Eu não dei a menor atenção para esse filme, achei que ia ser mais do mesmo no mundo dos filmes de terror, mas agora fiquei curiosa. E eu tb nunca tinha olhado com tanta atenção a relação ~feminismo/bruxaria~. Apesar de sempre ouvir/ler por ai a frase de “somos as netas das bruxas queimadas” eu nunca relacionei assim tão a fundo a bruxaria com feminismo. Gostei mto mesmo do seu post. Já ganhou uma leitora fiel 😀
Beijos
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Ahhh, fico muito feliz que vc tenha gostado do texto.
Eu tenho lido muito sobre esse lance de bruxaria e feminismo, mulheres e o mal. Quem sabe um dia consigo escrever um texto melhor sobre o assunto!
Beijos e obrigada pela visita 🙂
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Adorei seu texto! Tenho muita curiosidade de assistir A Bruxa. Antes, tinha medo, porque não sou muito afeita a filmes de terror, mas com o passar do tempo tenho visto mais e mais opiniões sobre o feminismo latente na obra e isso muito me interessa. =)
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